Publicado em: 28/03/2017

Confira artigo do jornalista Cesar da Luz, do Paraná, no qual ele argumenta que a sanidade da carne brasileira não foi o foco da operação da PF, e sim os desvios de fiscais e a corrupção

        O que se acrescentar ao que já se falou em torno da qualidade da carne produzida no Brasil, inclusive através de pronunciamentos oficiais do governo brasileiro? De fato, está comprovado que a operação da Polícia Federal “Carne Fraca”, por mais que tenha apontado falhas pontuais e numa parte muito ínfima de todo o sistema produtivo nacional – menos de 0,5 por cento -, não desqualifica a carne brasileira. Na verdade, o Brasil produz carne de extrema qualidade, que pode ser livremente consumida, seja in natura cozida ou assada, ou na forma de embutidos, sem qualquer mal à saúde.


       Desde a divulgação dos resultados da operação da PF temos afirmado que o foco das investigações da PF foram os desvios de conduta de servidores públicos lotados no Serviço de Inspeção Federal, o SIF, do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Isso não devia nos surpreender, pois vivemos num país onde a corrupção atinge muitos setores, e não seria diferente em órgãos de fiscalização, justamente pela função de seus agentes. Em decorrência dessa corrupção, algumas ações administrativas foram feitas ao arrepio da lei, permitindo a comercialização de produtos que deveriam ser descartados. Para resolver a questão, medidas já foram adotadas, frigoríficos foram fechados e prisões efetuadas. Aliás, era o que se esperava!


        Devemos, porém, observar que somos carnívoros por natureza, e desde a infância estamos acostumados a sentir o cheiro de uma carne logo que começa a ser assada, o que já nos dá água na boca. E que a boca não nos engana, pois através do paladar logo notamos se o que colocamos nela é bom, ou ruim. O olfato também nos ajuda nisso, pois só ao cheirar a carne já podemos afirmar se ela é boa, ou não. Colocada à mesa e consumida, nosso sistema digestório, começando pelo estomago, se encarrega de dar seu veredito: isso é bom, isso é palatável, é saboroso e quero mais, “peço bis”, “me sirva de novo”!


 Então, se faltou parecer técnico em algumas suspeitas da PF no processo de industrialização da carne brasileira, em pouco mais de duas dezenas de plantas frigoríficas num universo de quase 5 mil frigoríficos no Brasil, todo o volume de investimentos da cadeia produtiva da carne não pode ser jogado no ralo, desconsiderando-se também todos os recursos em treinamento de funcionários e na adequação de plantas industriais justamente para atender aos melhores padrões de higiene e sanidade no Brasil e no exterior, pois exportamos para mais de 150 países. Somem-se a isso os milhões de reais investidos anualmente em marketing da carne. É uma tolice muito grande e até mesmo uma insensatez achar que se arriscaria muito por tão pouco, e que ao se generalizar o processo se peca pela desinformação do mercado e de quem consome o produto e fica na dúvida se é bom ou não, gerando desconfiança do consumidor e do mercado importador lá de fora!


          Em se tratando de carne suína, a saudabilidade dessa fonte de proteína animal foi comprovada nas últimas décadas, e muito se investiu nas granjas e demais setores da cadeia produtiva para colocar à mesa uma carne de qualidade, saudável e saborosa. Os animais têm toda atenção na alimentação e manejo para que, cada vez mais, se produza carne com total sanidade, resultado também do bem estar animal. E os mecanismos de fiscalização e de vigilância sanitárias estão instalados de uma ponta a outra da cadeia produtiva.


          Sendo assim, a medida mais salutar adotada por um dos 10 maiores importadores da carne brasileira, a Arábia Saudita, que deveria ser seguida por outros países importadores de carne do Brasil, é aumentar a fiscalização. Nada de suspender importações, de retirar carne do mercado, ou de reter carnes em navios no alto mar ou nos portos, causando grandes prejuízos às empresas que atuam no setor. Os reflexos, ainda não sentidos plenamente no mercado interno, decorrentes dessas sanções e da queda nas exportações, podem fragilizar toda a cadeia produtiva, o que será profundamente desastroso num país que ainda não conseguiu se livrar do lamaçal da corrupção, com efeitos dramáticos em sua economia. Mas, em se tratando de carne produzida aqui no Paraná, ou em qualquer outro estado brasileiro, que a coloquem à mesa! A carne é forte e saudável!



* CESAR DA LUZ é jornalista, escritor e palestrante. É Diretor da Liverpool Editora, responsável pela Comunicação do Sistema APS, no Paraná.

OPINIÃO: Que se coloque carne à mesa. Ela é forte e saudável