Publicado em: 17/03/2016

Ao longo dos anos, a atividade mantém milhares de famílias no campo, gerando riquezas, empregos e renda

* Cesar da Luz


Uma música bem conhecida na região Sul ilustra a crise na suinocultura e faz refletir sobre os novos riscos à atividade. “Herdeiro da Pampa Pobre”, do ‘Engenheiros do Hawai’, questiona “que pampa é essa que eu recebo agora, com a missão de cultivar raízes. Se dessa pampa que me fala a história, não me deixaram nem sequer matizes?”. Destaca que “passam às mãos da minha geração, heranças feitas de fortunas notas, campos desertos que não geram pão, onde a ganância anda de rédeas soltas”. Ou seja, indaga a postura diante de crises e pergunta que herança será deixada às futuras gerações. Nada mais inspirador para se analisar o atual momento do setor suinícola nacional.


Numa livre adaptação, questionamos o suinocultor, trazendo à luz alguns pontos que envolvem os filhos e netos de suinocultores, neste negócio que passa de pai para filho e que mais emprega no meio rural, produzindo proteína animal da melhor qualidade, de sanidade garantida, preço competitivo e sabor inigualável. Essa geração de suinocultores talvez cante a seguinte adaptação da já citada famosa canção: “Mas que suinocultura é essa que eu recebo agora, com a missão de manter as raízes. Se dessa atividade que me contam histórias, não me deixaram condições para manter as matrizes? Passam às mãos da minha geração, um negócio que teve fortunas notas, pocilgas desertas hoje já não geram mais leitão, num país onde a ganância anda de rédeas soltas”.


Ao longo dos anos, a atividade mantém milhares de famílias no campo, gerando riquezas, empregos e renda. Para pequenos lotes de animais é preciso o cuidado de 2 ou 3 pessoas, geralmente de uma mesma família, que vive na própria granja, onde obtém seu sustento e uma vida digna. O produtor, entre os altos e baixos do setor, sempre teve na atividade uma fonte de renda para manter sua família, pagar os estudos dos filhos, honrar seus compromissos e até para investir em outros setores, como terras para lavouras.


            Mas as recentes crises, especialmente as de 2002 e 2012, somadas à atual, colocam em risco os planteis no Brasil. Sangram, não o suíno na hora do abate, mas o suinocultor que ainda se mantém na atividade! Rasgam, não a orelha do suíno para dar-lhes a marca da genética, mas o bolso do suinocultor, que perde seus últimos trocados com um câmbio que favorece às exportações de milho, elevando o preço do grão no mercado interno e provocando a falta do produto no balcão. As exportações da carne suína, apesar de crescerem a cada ano, não ajustam o mercado interno; o consumo está baixo, pois caiu o poder aquisitivo do consumidor, e o preço do suíno vivo e da carcaça é uma vergonha, abaixo do custo de produção, à mercê de especuladores!


Falta uma política de preço mínimo do suíno; falta uma política reguladora de abastecimento de grãos que não favoreça um setor, em detrimento de outro; faltam alternativas para a ração animal; falta mais união do produtor, em associações, consórcios e cooperativas, o que elevaria o seu poder de negociação. E que o suinocultor faça a lição de casa, profissionalizando a gestão do seu negócio, atento às oportunidades que surjam.


Caso contrário, as futuras gerações vão cantar a música “Herdeiro de uma suinocultura pobre”, com pocilgas vazias, sem matrizes, nem leitões; sem herança, nem tostões; sequer os botões das calças dos seus pais e avós, aqueles usados nos bolsos das calças de antigamente, lhes serão herdados, pois eles se perderam com as calças, que foram rasgadas com o tempo, e com os sapatos, que se furaram nas tantas andanças do suinocultor, nas lutas por melhores preços!


* Jornalista, escritor e palestrante, responsável pela Comunicação do Sistema APS.

ARTIGO: Herdeiro da Suinocultura Pobre