Publicado em: 19/05/2015

Sebastião Guedes, que coordena grupo panamericano que visa erradicar a aftosa na América Latina, observa que o fim da vacinação permite acesso a novos mercados e com maior valor agregado

“Acho que o Paraná está no caminho certo”. A afirmação sobre a posição do estado em defesa do fim da vacinação contra a febre aftosa é do médico veterinário Sebastião Guedes, que coordena o Grupo Interamericano para Erradicação da Febre Aftosa (GIEFA), em entrevista concedida ao jornal “Gazeta do Povo”, de Curitiba, publicada na edição desta terça-feira, 19, na página 2 do caderno do agronegócio.


Sebastião Guedes, que hoje é coordenador do grupo panamericano cujas ações visam eliminar a doença da América Latina, já dirigiu o Sindicato Nacional das Indústrias de Produtos para Saúde Animal (Sindan), que representa a indústria da vacinação, e o Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC), que fomenta a cadeia produtiva bovina dentro do Brasil.


Na opinião de Guedes, expressa na entrevista, o Paraná tomou uma decisão acertada ao articular o fim da imunização dos rebanhos, “pois o risco é controlado e o ganho econômico, certeiro”, afirmou.


Sebastião Guedes entende que a suspensão da vacina da aftosa é uma tendência mundial, pois permite acesso a novos mercados e com maior valor agregado. “A barreira externa criada pela aftosa é basicamente uma barreira econômica. Ao se tornar uma área livre sem vacinação, pode-se acessar mercados mais importantes como Estados Unidos, Japão, Cingapura e Coreia do Sul”, disse, ao observar que “os países exigem a criação de áreas livres porque a vacinação indica que ainda há circulação do vírus”. Ressaltou, ainda, que “os produtos também passam a valer mais”. Citou como exemplo o fato de o Japão pagar US$ 20 mil pela tonelada de língua bovina, mas exige que os animais não sejam vacinados. A mesma língua, de gado vacinado, é vendida a US$ 4 mil ou US$ 5 mil, no máximo. “Acho que quando o Paraná obtiver o reconhecimento como área livre sem vacinação, será uma questão de tempo para que o Rio Grande do Sul e São Paulo também busquem o mesmo status”, frisou.


O Governo do Paraná acaba de investir nas 23 barreiras fixas da sua Agência estadual de defesa agropecuária, a Adapar, e também de nomear mais 169 fiscais, reforçando a equipe de fiscalização do estado. Num primeiro momento, as duas medidas se enquadram no processo que visa buscar o reconhecimento do Paraná pela Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), como zona livre de Peste Suína Clássica (PSC), o que acaba por contemplar, também, a questão da aftosa, reforçando o fim da vacinação no território paranaense.


Mesmo que nas divisas internacionais a questão de fiscalização esteja à cargo do governo federal, através do MAPA, o fato de o Paraná fazer divisa com o Paraguai também teve, nas declarações de Sebastião Guedes, um fator positivo a ser observado. De acordo com Guedes, “o Paraguai melhorou muito no controle e tem apoiado intensamente outros países, alocando técnicos e disponibilizando recursos. De modo geral, a situação em relação aos vizinhos do Brasil é tranquila”, mencionou, na referida entrevista, ao ser questionado sobre a circulação do vírus na América Latina.


Ainda na opinião de Sebastião Guedes, o reconhecimento de área livre sem vacinação não causará falta de carne ou de vacina, em caso de reincidência. Disse que isso é apenas uma questão de adaptação, e que a legislação da OIE prevê que animais das áreas com vacinação possam entrar nas áreas sem vacinação, desde que seja para abate. “Então não há risco de déficit nos frigoríficos”. Sobre as vacinas, Guedes informou que o Brasil tem um parque industrial que pode produzir 600 milhões de doses por ano, mas só consome cerca de 330 milhões. “Se ocorrer alguma fatalidade terá vacinas tranquilamente”, ressaltou.


Por fim, na questão da suspensão da vacinação em bloco, Guedes entende que, no caso do Brasil, a aprovação por estado é mais prática. “Há um componente político forte, já que as prioridades dos governos são diferentes, o repasse de verbas federais também muda. Acho que o Paraná está no caminho certo”, finalizou.

AFTOSA: Coordenador do GIEFA defende fim da vacinação no Paraná