Publicado em: 28/01/2016

Entidade emite Nota Oficial alertando sobre os sérios riscos à atividade e ao desemprego em massa no campo e na cidade

A suinocultura é um dos setores que mais sofrem com a falta de um plano bem estruturado de abastecimento no Brasil, necessário para dar segurança à atividade em época de commodities valorizadas pelo fortalecimento do dólar. O setor sofre com uma combinação de alta no preço do milho e baixa no preço do suíno vivo, e com a falta de oferta de milho no mercado a preço compatível com um patamar aceitável em termos de custo de produção. Em razão disso, a Associação dos Suinocultores do Paraná (APS) alerta para sérios riscos de quebradeira e desemprego caso o governo federal não intervenha para minimizar impactos que o segmento já sente.


“Se o governo não agir rápido, a cadeia da suinocultura poderá ir à lona. Precisamos mais do que um leilão de milho estocado pela Conab. Precisamos de uma política que evite situações como a que vivemos, novamente, além de garantia de preço mínimo para o suíno”, ressalta Jacir Dariva, presidente da APS. Para Dariva, a combinação da alta do dólar, de uma política ineficiente na questão do abastecimento e do baixo preço pago ao produtor de suíno vão comprometer a atividade no Brasil. “Esse câmbio e a falta de uma política eficiente no que tange ao abastecimento em momentos como o que estamos vivendo, com o milho, que é o principal composto da ração animal, sendo exportado em grande escala, atraído pela alta da moeda americana, coincidindo com mais uma fase de baixa no preço do suíno vivo, não há como resistir. Os suinocultores vão quebrar e os pequenos e médios frigoríficos também”, alerta Dariva.


Entenda o momento


Uma conjugação de fatores associada à falta de habilidade de sucessivos governos coloca, mais uma vez, a suinocultura em estado de alerta. Por um lado, o câmbio valoriza as commodities; de outro lado, custos elevados contribuem para tornar mais difícil a manutenção do setor, já que a ração proveniente do milho é vital para os planteis. Diante disso, não há outra medida a ser adotada do que alertar para os sérios riscos desse quadro, tentando sensibilizar as autoridades e a classe política, para adoção de medidas que evitem quadros sucessos de crise na atividade.


“A APS, em nome dos suinocultores, está fazendo o alerta e não está se omitindo, para que todo o caos que já está sendo percebido pelo setor não traga desemprego em massa no meio rural, já que a suinocultura é um dos setores que mais emprega no interior”, assinala Dariva.


A propósito, a APS emitiu nota e tenta, por meio de articulações, sensibilizar autoridades e governo quanto a uma política efetiva de abastecimento que deixe setores mais protegidos contra a forte valorização da moeda norte-americana e de seus impactos.


O elevado preço da saca, no entanto, não é o único desafio. A APS informa, na referida nota, que o alto valor do milho coincide com a baixa oferta do produto no mercado interno e, consequentemente, com outra etapa de gradual redução dos preços do suíno vivo. “Poucos ramos têm sido, nos últimos anos, tão suscetíveis à variação cambial e à inexistência de uma política consistente e de longo prazo de abastecimento como a suinocultura”, dizem as lideranças do setor. Em contato com o secretário de Estado da Agricultura, Norberto Ortigara, diretores da APS pediram para que ele reforce solicitação já encaminhada ao órgão de garantir a disponibilização de pelo menos 600 mil toneladas de milho para a suinocultura, emergencialmente.



Regularização


A Associação Paranaense de Suinocultores informa que o governo federal precisa lançar mão de seu estoque regulador em quantidades que, de fato, atendam a necessidade do produtor, para que preço e abastecimento sejam regularizados. O temor de suinocultores e de todos que de uma forma ou outra estão ligados à cadeia da suinocultura é de a área ter de enfrentar novamente os graves cenários de passados recentes, como o vivido em 2012.


A valorização do dólar é benéfica às commodoties e à balança comercial brasileira, mas apresenta desafios enormes a outros setores de produção, a exemplo dos produtores de proteína animal que estão no fim da cadeia produtiva. “Já passou da hora dos setores de carnes exigirem do governo federal uma política séria e eficiente de mitigação dos riscos do mercado de grãos”, diz um dos maiores especialistas em cadeia de proteína animal do Brasil, Fabiano Coser, da Coser Consultoria.


A APS também reclama da pouca efetividade das investidas do governo na tentativa de equilibrar o cenário de atividades econômicas importantes ao País. Além do apelo, a nota da Associação tem tom de alerta: “A persistir esse quadro, com grandes chances de se agravar, e caso nada seja feito, além dos pequenos e médios produtores, também os pequenos e médios frigoríficos abandonarão a atividade e fecharão seus negócios, causando grande desemprego na área rural e nas cidades onde estão instalados”. Em uma época de crise, de demissão de 1,5 milhão de brasileiras que tinham carteira assinada em 2015, o cenário informado exige cautela, discernimento e coerência por parte da União.



Falta de política adequada fragiliza o produtor



A inexistência de uma política agrícola cuidadosa para evitar o repentino fortalecimento de um e o enfraquecimento de outro setor do agronegócio acaba trazendo consequências a toda a economia. A Associação Paranaense de Suinocultura enxerga riscos muito além da área que representa. A forte valorização do dólar, que estimula a exportação de grãos, deixa outras áreas igualmente importantes, como a avicultura, na mesma situação de fragilidade. Afinal, o milho é o principal composto da ração animal.


Na semana passada, conforme a APS, houve valorização do milho em praças de peso do Paraná. Em contrapartida, ao mesmo tempo, há recuo do preço do quilo do suíno vivo, na casa dos R$ 3, bem abaixo dos custos de produção. “Esse quadro testa os nervos de quem investe nos ramos da proteína e vai gerar desemprego no campo e na cidade, com a descapitalização de famílias de pequenos agricultores que dependem da atividade em suas propriedades.


 


Setor precisa mais do que um leilão


 


Na tentativa de apaziguar ânimos no setor, o governo federal agendou para segunda-feira, 1º de fevereiro, um leilão de 150 mil toneladas de milho. No entanto, especialistas dizem que a medida é tão pífia que não terá qualquer impacto na formação, contenção ou eventual redução de preços do milho.


Segundo o consultor Fabiano Coser, a quantia anunciada é pouco superior à média diária apenas para a alimentação animal, hoje na casa das 120 mil toneladas. A previsão apenas para 2016, conforme estimativas do Sindirações, o Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal, é que serão necessárias 43 milhões de toneladas do grão.

À BEIRA DO COLAPSO: APS adverte para risco de quebradeira na suinocultura